28/09/2010

porquê o atlético mineiro não vai cair

ai, gente, o negócio é o seguinte: o atlético mineiro não cai esse ano não. 

e amplio: nenhum time grande cai. 

dorothy diz: ooooooh!
claro, é apenas uma opinião. mais uma. poderia até dizer que é um palpite intuitivo e assim me comprometer menos, mas já que me dispus a expor meu ponto de vista por aqui, vamos aos argumentos.

os estatísticos trabalham com a possibilidade de 46 pontos para afastar um time do rebaixamento, neste campeonato. para alcançar esse número, o atlético precisaria obter um índice de aproveitamento, daqui pra frente, de 61,6% (o líder do campeonato tem 64%). mas matemática em futebol não é regra, é apêndice. vamos falar de contexto?

fenômeno tricolor em 2009

eu sei que essa comparação já se tornou vulgar, mas não há como fugir dela. ao final da 25ª rodada, no ano passado, o fluminense tinha 18 pontos, amargava a última posição do campeonato, após ser  humilhado pelo grêmio no olímpico. era a terceira partida de cuca sob o comando do tricolor, já considerado virtualmente rebaixado – precisava, então, de 71,8% de aproveitamento nas próximas partidas para atingir a pontuação que o livraria da degola.


"Com apenas 18 pontos, o Tricolor ocupa a última posição do Campeonato Brasileiro. Segundo o matemático Tristão Garcia, o Fluminense tem 96% de risco de ser rebaixado".


com cuca, o flu seguiu oscilando derrotas, empates e poucas vitórias, recuperando física e tecnicamente, aos poucos, importantes jogadores do seu time. e é aqui que a memória seletiva nos confunde, porque o milagre tricolor começou a ser de fato concretizado apenas na 32ª rodada, quando engatou uma sequência absurda de vitórias e escapou do rebaixamento por um ponto. percebem como a situação do galo é um cadinho mais confortável?

ah, mas aquilo ali foi um milagre, não vai acontecer de novo

então, fiz uma tabelinha pra ajudar na visualização (incluí os quatro que estão hoje na zona de rebaixamento mais o avaí).




(tá pequena né? clica na imagem para aumentar!)
com essa visualização, podemos destruir o mito de que a tabela do galo está mais difícil. não, não está. está apenas tão difícil quanto a dos demais. por esse mesmo motivo, acredito que o ponto de corte esse ano não seja 46. na simulação que eu fiz, deu 42. e o galo não caiu.

embora alguns possam mencionar o flamengo ou o vasco, momentaneamente na 16ª e 14º, reforço que não acredito que haverá mais nenhum grande time lutando efetivamente contra o rebaixamento este ano. penso que o galo disputará a última vaguinha ali entre os 16 primeiros com estes times que estão expostos na tabela, acrescentando talvez guarani ou ceará. isso é relevante. ano passado, em panorama semelhante, o flu escapou. para explicar com um exemplo inverso, em 2008, o cenário que rebaixou vasco contou com santos e fluminense lutando efetivamente contra o rebaixamento.


camisa faz diferença, bons jogadores fazem a diferença. avaí, atlético goianiense, prudente e goiás não têm a torcida que tem o galo, não tem diego souza ou tardelli, que não estão jogando nada,  como o resto do time, mas assim dorival pegou o santos, nas mãos de um mesmo luxemburgo, e fez campeão. calma. não comparo neymar com tardelli nem ganso com diego souza. vamos engolir o choro, respirar fundo e guardar as devidas proporções. o ponto central aqui é que o galo não tem time pra cair, especialmente quando comparado aqueles próximos na tabela. é, sim, melhor que os outros quatro, embora desatento, instável e com um sistema defensivo desestruturado. se dorival conseguir trabalhar esses três pontos, muito possivelmente conquistará o seu terceiro e talvez mais nobre êxito neste ano: a gratidão de uma das maiores, mais comoventes e fieis torcidas do país.

obs.: não mencionei a ausência do mineirão, em obras para a copa, relevante, mas não determinante, na minha opinião.

27/09/2010

#1 sei que foi assim

1989, bahia campeão brasileiro
como a maioria das pessoas neste país, tenho um pai doente por futebol. como a maioria das pessoas neste estado, tenho um pai doente pelo esporte clube bahia. mas meu paizinho é tão doente por futebol e pelo bahia que chegou a fazer parte da divisão de base do clube. o que significa que, além de tudo, para a média dos pais loucos-por-futebol-e-loucos-pelo-bahia, ainda jogava muita bola. esta introdução é relevante para explicar o primeiro ponto: 

futebol na minha vida
pai: filha, diz 'bo-ra-ba-êa' | eu: =/
aprendi a jogar bola antes de gostar de futebol e aprendi a gostar de futebol antes de optar por um time. em algum nível sabia que esta era talvez a única escolha determinante e vitalícia que uma criança poderia fazer, sem interferência dos pais. embora tivesse (e ainda tenha) enorme simpatia pelo bahia e a despeito de todos os esforços do meu pai, bati o pezinho, queria escolher o meu time. o que conduz ao segundo ponto: 

um time para chamar de meu (ou bad choice, paulinha) 

paulinha ali atrás, ó, comendo brigadeiro
vejam bem. eu era metida a independente, mas não brava a ponto de escolher o maior rival, tampouco indie o suficiente para eleger qualquer outro time local. em um domingo de 1992, assistia desenho na casa da minha amiga paulinha, quando o seu pai mudou de canal para a transmissão do campeonato brasileiro daquela tarde. e, antes que emitíssemos o primeiro chiado:

- brincadeira nova para vocês! cada uma escolhe um time e aquela que escolher o vencedor ganha um brinde no final. 

paulinha, afobada:

- eu sou o verde, eu sou o verde!

o que veio a calhar, porque: 1. já havia escolhido o branco mesmo, 2. o branco ganhou. acho que não cheguei a receber o meu brinde, mas isso verdadeiramente não mais importava. naquele mesmo dia, mais tarde, durante os gols do fantástico, eu teria um time de futebol para chamar de meu.

- olha pai, o gol do time branco, esse aí que eu torci na casa de paulinha!
- é, gosto desse time, tricolor, simpático, está ganhando tudo!
- ah, é o meu time.

em 1994, uma piveta tricolor
nascia uma são-paulina. às vezes me pergunto se paulinha - amizade que não sobreviveu à mudança de condomínio, dois anos mais tarde - ainda é palmeirense.